No bairro Magalhães, comunidade próxima ao porto de Laguna, no dia 2 de fevereiro (feriado municipal), as homenagens são para Nossa Senhora dos Navegantes, com procissão marítima pelo canal da Barra. O motivo da adoração iniciou no século 18, onde as pessoas que viajavam pelo mar pediam proteção à Nossa Senhora para retornarem aos seus lares. Maria era vista como protetora das tempestades e demais perigos que o mar e os rios ofereciam. A primeira estátua foi trazida de Portugal junto com os navegadores para o Brasil. A região do Magalhães sempre foi envolvida com o porto da cidade, muitos trabalhadores e diretores moravam no bairro. No ano de 1911, para aproximar o povo ainda mais com a religiosidade, foi erguida a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes e teve sua pedra fundamental lançada em dia 5 de novembro daquele ano. A construção da Capela contou com o patrocínio do superintendente do Porto da Laguna, engenheiro Polidoro Santiago. Já em 1912, houve a primeira festa de Nossa Senhora dos Navegantes com grande número de fiéis que acompanharam a imagem da padroeira. A primeira missa realizada na Capela foi celebrada no dia 25 de dezembro de 1913. Em 24 de fevereiro de 1966, foi criada a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, pelo Decreto nº 21, assinado pelo bispo Dom Anselmo Pietrulla. Somente em 1967 foi construída a Casa Paroquial, sendo seu primeiro vigário o Padre Vandelino Shlickmann. Em 1968 realizou-se a primeira Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, como paróquia. No dia 1º de maio de 1969, foi colocada a pedra fundamental para a construção da nova matriz, que teve seu início em 16 de maio do mesmo ano, sendo inaugurada no dia 27 de janeiro de 1979. Todo mês de fevereiro, a cidade presta homenagens. Dia de Iemanjá Laguna tem fortes ligações históricas com a África, por aqui, na época da escravidão, o antigo porto era um ponto de distribuição de escravos para a região. Somente no ano de 1860, a província de Laguna tinha 33.432 mil habitantes, sendo 3.310 mil escravos. Estes homens e mulheres trouxeram a sua religiosidade. Seus descendentes, mesmo com o passar dos séculos, não esqueceram das suas crenças e sua fé atravessou gerações. Em 2017, o munícipio reconheceu a importância desta história decretando o dia 2 de fevereiro, data para lembrar de Iemanjá, orixá muita cultuada, mãe da sabedoria e dona do pensamento dentro da religiosidade africana. A intenção de acordo com o prefeito Mauro Candemil é contribuir com o avanço da tolerância religiosa. O dia de Iemanjá é considerado patrimônio imaterial. Antes de virem para o Brasil, os africanos cultuavam diferentes orixás em diversas regiões da África. Quando chegaram na América do Sul foram proibidos de continuar o culto aos orixás. Para driblar a proibição, os escravos associaram os orixás ao santos da igreja católica, o chamado sincretismo religioso. Iemanjá, a Rainha dos Mares, foi sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes. Tradicionalmente, há muitos anos, turistas, praticantes e admiradores de religiões africanas se reúnem na praia do Mar Grosso para agradecer e homenagear Iemanjá, tanto no dia 2 de fevereiro, como na passagem do primeiro do ano. Em Laguna, são aproximadamente dez centros de cultos religiosos com matriz africana. Outros, pequenos grupos anônimos, com receio do preconceito, realizam suas atividades na sala de casa, para poucos amigos. As primeiras manifestações religiosas africanas ocorreram no século 18, na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, fundada por escravos. A construção da igreja no centro histórico começou em por volta de 1845, com poucos recursos, demorou mais de 10 anos para ficar pronta. O livro de Nail Ulysséa (1976) descreveu: “Esta irmandade teve a sua época áurea no tempo da escravidão. Fazia a festa da padroeira, de grande fama, em cuja festa se podia sentir em todo o ritual, o sabor das coisas africanas. Nela figurava um rei e uma rainha, com seus respectivos vassalos”. Acabada a parte religiosa, entregavam-se a danças trazidas da África, que duravam até altas horas da noite. O rei da primeira festa realizada em 1836, foi o escravo liberto Francisco Vaga e a primeira rainha foi Josefa, escrava de José Lourenço. Esta primeira festa foi oficiada pelo vigário Francisco Vilela, que, em 1839, foi morto pelos farrapos. Conscidências históricas, a poucos metros do antigo local da igreja do Rosário, espaços de adoração aos orixás podem ser encontrados atualmente. A igreja foi destruída na década de 30 para construção de casas. Atualmente, apenas pode ser encontrada em fotos. Outras sociedades baseadas em laços de parentesco e de raça surgiram na Laguna no período do pós-abolição. Com destaque para a Sociedade Recreativa União Operária (1903) e o Clube Literário Cruz e Souza (1906), assim como, o bloco carnavalesco Brinca Quem Pode (1947), agremiações que possuem, de alguma forma, ligações ancestrais com o povo do Rosário. História – Entre 1822 e 1826, um dos mais importantes traficantes da rota Rio de Janeiro-Moçambique, Zeferino José Pinto de Magalhães, despachou em várias viagens mais de 40 escravos do porto do Rio de Janeiro para Laguna. – A maior parte da mão de obra escravizada trabalhava na “lavoura”. Na província de Laguna as propriedades rurais tinham em média entre dois e dez escravos. – Na cidade eles exerciam diversas atividades: eram trabalhadores domésticos, cozinheiros e ambulantes, mas também, podiam ser artesãos que confeccionavam vestimentas ou trabalhavam na construção das edificações. – Segundo a memorialista Nail Ulysséa, a irmandade do Rosário era formada por “pessoas da África, a maior parte escravos e poucos libertos” (1976). Entre eles estavam os africanos, chamados “da costa”, e os “crioulos”, afrodescendentes nascidos no Brasil. Na irmandade se cultivava rituais católicos, mas também cerimônias afro-brasileiras, como a coroação de reis e rainhas. – A igreja deixa de ser um detalhe na paisagem urbana, entre a segunda metade do século XIX até os anos 1930. O processo de declínio do templo, entre 1885 e 1933, é tomado como um “sintoma” da exclusão dos negros na história e na historiografia de Laguna. – As obras para a construção do templo da Irmandade teriam iniciado em 1845. Em seu interior foram construídos altares para a confraria do Rosário e para a Irmandade de Nossa Senhora do Parto. – Uma das primeiras referências ao templo do Rosário da Laguna está em um relato de viagem que Robert Avé-Lalleman fez em 1858: “Numa eminência, no extremo da pequena cidade, eleva-se para o céu, uma igreja meio construída” (1980, p.35). A aparência de um prédio “meio construído” parece atestar a situação financeira e a dificuldade da irmandade em angariar fundos para sua construção e manutenção. O processo de edificação da igreja foi demorado. – Em 1879, sob a supervisão do tesoureiro João Fortunato José da Silva, ainda estava em andamento a obra para sua finalização. No ano de 1892, o padre Carlos José Leopoldo Boegershausen, em visita a Comarca da Laguna, apontou o risco de desmoronamento do templo devido a erosão do lado sul do Morro, no entanto, frisou que o seu interior era “adequado ao exercício do culto, apenas faltando pintar o trono à óleo”. – Não se sabe ao certo a data de fundação da Irmandade, acredita-se que tenha acontecido antes de 1828, neste ano os irmãos adquiriram o terreno para erguer a igreja. Fontes: “Tráfico de escravos e a presença africana na Ilha de Santa Catarina”, de Beatriz Gallotti Mamigonian e Vitor Hugo Bastos Cardoso “Mulatos e Pretos em Laguna: Identidades e Identificações em Sociedades Recreativas de Afrodescendentes no Sul Catarinense (1903-1950)” – Júlio César da Rosa (Unisinos) “O comércio de escravos para Laguna no século XIX”, de André Fernandes dos Passos, com comentários de Tiago Kramer de Oliveira e Fábio Kühn “Três séculos na Matriz de Santo Antônio dos Anjos da Laguna. In: Santo Antônio dos Anjos da Laguna: seus valores históricos e humanos. Nail Ulysséa, 1976. “As heranças do Rosário: Associativismo Operário e o silêncio da identidade étnico-racial nos pós-abolição, Laguna”, Thiago Sayão. Edição e texto: jornalista Taís Sutero MTB/SC 1796
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